sexta-feira, 14 de agosto de 2009

EDUCAÇAO E RELAÇÕES ÉTNICORRACIAIS







A escola tem um papel fundamental na formação de cidadãos capazes de conviver e de dialogar com a diversidade cultural e histórica do Brasil, além de promover a maior identificação dos(as) estudantes com os conteúdos e práticas ensinados na escola. Portanto, à escola cabe o papel de reconhecer que tanto as pessoas que a compõem como as que integram a sociedade brasileira apresentam aspectos que as diferenciam: têm especificidades de gênero, de raça/etnia, de religião, de orientação sexual, de valores e outras diferenças definidas a partir de suas histórias pessoais. Essas diferenças tão presentes na construção identitária das pessoas e de suas realidades são, muitas vezes, motores de relações desiguais. Há vários exemplos, em nossa sociedade, de diferenças que fomentam desigualdades. Pensemos, por exemplo, em como a religião católica é ratada nos meios de comunicação e em espaços públicos como hospitais e escolas. Agora reflita sobre como as religiões afro-brasileiras, tal qual o candomblé, são tratadas nesses mesmos espaços.
Na prática as diferenças de religiosidades geram uma relação que é desigual. A constituição garante a liberdade de crença religiosa e as instituições devem promover o respeito entre os praticantes de diferentes religiões, além de preservar o direito de alguns não terem prática religiosa. No entanto, é mais comum encontrarmos, crianças e adolescentes exibindo com orgulho os símbolos de sua primeira comunhão, enquanto famílias que cultuam religiões de matriz africana são discriminadas por suas identidades religiosas, na escola.
O estereótipo funciona como um carimbo que define antecipadamente quem são e como são as pessoas, alimentando os preconceitos. Dessa forma, o
etnocentrismo aproxima-se, também, do preconceito, que pode ser pensado como algo que vem antes (pré) do conhecimento (conceito). Ou seja, antes de conhecer já defino “o lugar” daquela pessoa ou grupo. Em nossa sociedade existem práticas, tradições e histórias que sofrem profundo preconceito dos setores hegemônicos, ou seja, aqueles que se aproximam daquilo que é considerado como “correto” por parte daqueles que detêm o poder. Assim, os cultos afro-brasileiros iriam contra as “normais e naturais” religiões cristãs. O preconceito relativo às práticas religiosas afrobrasileiras está profundamente arraigado na sociedade por estar associado a grupo historicamente estigmatizado e excluído, o dos negros. Vale lembrar que espaços de resistência afro-brasileira, como o samba, a capoeira e os quilombos foram, durante décadas, proibidos e perseguidos pela polícia e que ainda possuem estigmas.
Se estereótipo e preconceito estão no campo das idéias,
discriminação é uma atitude. É a atitude de discriminar, de negar oportunidades, de negar acesso, de negar humanidade. Nesta perspectiva, a omissão, a invisibilidade também se constitui como discriminação.
Estereótipo: é uma generalização sobre um grupo de pessoas que compartilha de certas qualidades características (ouestereotípicas) e habilidades. É utilizado em sentido depreciativo e negativo, considerando-se que os estereotipos são crenças ilógicas que podem ser modificadas com uma prática educativa adequada.
Etnocentrismo: caracteriza-se pela idéia de que a própria cultura possui maior valor dentre as demais. Estaconcepção consiste em julgar a própria cultura como a melhor, a mais natural e humana. É, portanto, uma posição intransigente em relação aos valores e às normas que caracterizam diferentes culturas. É uma postura que acaba por se caracterizar como segregacionista, uma vez que menospreza o valor dos individuos que pertencem a outras culturas.
A ausência de negros e negras ou a exposição como inferiores em livros didáticos, filmes, cartazes e outros recursos utilizados na escola reforça a estigmatização da população negra e dos(as) estudantes negros(as). Por outro lado, há um reforço na construção do imaginário acerca da superioridade branca. A meta deve ser o respeito aos valores culturais e aos indivíduos de diferentes grupos, o reconhecimento destes valores e a convivência. A convivência com a
diversidade implica experimentar o respeito à diferença. Estes são passos essenciais para a promoção da igualdade de direitos.
O conceito de estereótipo consiste na generalização e atribuição de valor (na maioria das vezes negativo) a algumas características de um grupo, reduzindo-o a estas características e definindo os “lugares de poder” a serem ocupados. É uma generalização de características subjetivas para um determinado grupo, no caso dos estereótipos negativos, impondo-lhes o lugar de inferior, o lugar de incapaz.
Desconstruir o estigma da desigualdade atribuído às diferenças é tarefa de todas as pessoas e o espaço da escola é particularmente importante neste processo. A escola, por sua intencionalidade, sua obrigatoriedade legal, por abrigar diversidades, torna-se responsável junto com seus(as) estudantes, familiares, comunidade, organizações governamentais e não-governamentais por construir caminhos para a eliminação de preconceitos e de práticas discriminatórias. É no ambiente escolar que crianças e jovens podem se dar conta de que somos todos diferentes e que a diferença não deve pautar a construção de relações desiguais. E mais: é neste espaço que eles podem perceber que podem ser, junto com os professores(as), os promotores da transformação do Brasil em um País onde haja direitos iguais e respeito à diferença.
Professor(a), você realiza alguma experiência sobre o tema das relações étnicorraciais na escola? Se ainda não realiza, tem em mente alguma idéia para desenvolver essa discussão em sua sala de aula ou na escola? Compartilhe com outros(as) educadores(as) suas idéias sobre essa atividade e construa junto com seus(as) colegas uma proposta para a escola! Faça sua postagem.
REFERÊNCIAS
BENTO, Maria Aparecida da Silva. Cidadania em preto e branco. São Paulo: Ed. Ática, 1999.
BRASIL. MEC, CNE/CP 003/2004, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnicoraciais e para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana.
LIMA, Maria Nazaré Mota de (org). Escola Plural – a diversidade está na sala de aula. Salvador: Cortez - Unicef – Ceafro, 2006.
MUNANGA Kabengele (Org). Superando o racismo na escola. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.

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